Há algo errado: Estou em paz. Como é possível? Em meio à guerra, À pandemia, Ao caos, Longe dos abraços, Dos amigos, Das ruas! Como é possível? Estou em paz! . Um convite A visitar minhas memórias . Estive sozinha Brincando Desenhando Estudando Ouvindo música Lendo Dançando Observando o mar Aprendendo Amando Chorando Escrevendo . … Continue lendo Ensimesmando
Autor: Ariana Alves Magalhães
Desvergonha
Atrasada, sempre atrasada. Cinco minutos depois do horário marcado, ela chegou no consultório. Duas pessoas na frente. Tempo para relaxar um pouco, melhor evitar o celular e dar uma olhada nas páginas das revistas. Esses dois não se separaram? Volta para a capa, revista do ano passado. Vai o Instagram mesmo. Confere se os dois … Continue lendo Desvergonha
Vida de presente
O movimento no quarto era solene. Rostos conhecidos desfilavam diante da cama do Tio Severo. Um médico amigo da família o examinou. Observei quando balançou a cabeça e minha avó cobriu o rosto com as mãos. Tio Severo não se mexia há muitas horas. Já vi gente morta. Minha mãe me levava a enterros desde … Continue lendo Vida de presente
Tratamento de choque
Chegar em casa passou a ser um tormento depois da mudança dos novos vizinhos para o andar de cima. Entendi que a paz tinha acabado quando ouvi cadeiras arrastando, crianças correndo e um cachorro latindo. Viver no 402 até aquele dia era a perfeição - silêncio e torpor, vista para um terreno baldio, poucas luzes … Continue lendo Tratamento de choque
As pessoas
Luzia nasceu sem cabelos e transformou-se em uma mulher sem cabelos. Usou todos os produtos que mandaram, de shampoo a lama, de aromaterapia a oração, tudo foi motivo de esperança, mas nada deu resultado até o dia em que conheceu Dona Marta. Dona Marta tinha cabelos grossos e pintados, bem plantados em sua cabeça. Foi … Continue lendo As pessoas
Poema Brasil #1
As crianças que moram no morro conhecem barulho de bala, eu não. As crianças que vivem no morro são atingidas por balas perdidas, eu não. As crianças que brincam no morro morrem. Eu preciso entender mais rápido de que arma parte as balas perdidas que matam crianças que vivem no morro, elas não. Elas sabem, … Continue lendo Poema Brasil #1
A intencionalidade da vírgula
Texto: Ariana Alves Ilustração: Flávia Drago
Poema Brasil #3
Lá vem a mancha Adere na beleza No alimento Na sobrevivência Asfixia nosso orgulho Nossa dignidade Lá vem a mancha Ela tem Deus no discurso Deus não fez isso Quem fez sabe Quem está na China sabe Lá vem a mancha Que está nos discursos De quem fala de Deus A praga da lama Do … Continue lendo Poema Brasil #3
De felicidade
A menina desceu da cama, as meinhas tocaram o chão frio. Ouviu a mamãe ressonando, Escutou o papai roncando, Caminhou até a sala, abriu a porta e saiu. A luz do corredor acendeu feito mágica! Ela ergueu os pezinhos para alcançar o botão do elevador. Viu o E, o T, o 1, o 2, todos … Continue lendo De felicidade
Os sons da casa
A casa de Maria tem sons altos que tumultuam um silêncio sem fim depois que ela morreu. A campainha faz din-don, acordando a calmaria toda vez que eu chego lá. O relógio da cozinha marca a hora adiantada, o da sala atrasa quase sempre um minuto antes das cinco, fazendo tic-tac, um de lá, um … Continue lendo Os sons da casa
Coletivo Visceralistas 